segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Olho de Cão



Olho de Cão”

Escrito por Robson Nakazato
(29/09/2014 – Segunda feira)

AVISO do AUTOR:
– Antes de começar a ler o texto abaixo; a leitura deste roteiro exigirá imaginação do leitor, ou seja, enquanto estiver lendo imaginem como um filme. A narrativa é em “primeira pessoa”, o espectador vê toda ação ocorrer através de algum ponto de vista que na maioria dos casos é por uma câmera segurada por alguém. Exemplos de filmes que utilizaram essa técnica de primeira pessoa são: A Bruxa de Blair (1999), Cloverfield - O Mostro, (2009), a série Atividade Paranormal e Poder Sem Limites (2012).
– Esta crônica é uma homenagem à escritora russo-brasileira Tatiana Belinky, famosa por suas histórias com finais abertos e que fazem o leitor utilizar a imaginação de como será o fim da dela.


Abre a cena com imagem em preto-e-branco. Aparece um jardim gramado fresco, em um dia ensolarado, até que surge um líquido escorrendo ao lado e  uma pessoa com olhar surpreso, vendo diretamente do ponto de vista do leitor. Este chega mais perto para olhar melhor e faz uma cara como se tivesse feito uma cagada. E aí resolve chamar uma garota.

ANTONIO – Letícia! Letícia vem que cá ver! 
LETÍCIA – Ai Meu Deus do céu. (Bota as mãos na boca e no nariz) Nós dois matamos o cachorro do dono.
ANTONIO – Não. Não apenas um cão do síndico. Matamos um cachorro de uma espécie rara, que parece um filhote leão, que é na verdade um cruzamento entre pastor alemão e poodle. E esse cão fazia as pessoas de fora da casa cagarem de medo.
LETÍCIA – O que vamos fazer?
ANTONIO – O que vamos fazer com esse gramado que tá todo borrado de sangue. E ainda o dono vai chegar hoje. Portanto eu sinceramente não sei que devemos fazer.
LETÍCIA – Olha vamos o seguinte: tiraremos esse corpo daí e depois daremos um jeito no gramado.
ANTONIO – Ok.

Letícia se prepara para levantar o cão. Antonio a interrompe e pede para fazer algo antes.

ANTONIO – Espera. Antes, feche os olhos do cachorro.
LETÍCIA – Não. Não consigo. Olhe para os olhos azuis dele são tão cristalinos que não consigo tocá-los.
ANTONIO – Bom, se você tá com essa frescura, eu fecho para não perdermos tempo.

Antonio cobre os olhos do cão e assim tudo fica escuro. Porém imediatamente a imagem se abre sob a perspectiva do cão. Antonio e Letícia se preparam para levantar o cadáver, mas percebem que o olho do animal se abriu.

LETÍCIA – Antonio! O olho dele abriu sozinho!

Antonio fecha novamente os olhos e a imagem fica escura. E mais uma vez o olho se abre e vemos Antonio e Letícia carregando o corpo e depois o deixam  no chão. Os dois percebem que um dos olhos não está mais fechado.

ANTONIO – Cacete desse olho azul cristalino! Letícia, faça o seguinte: pega um pano bem velho, um jornal e uma daquelas sacolas grandes de compras, tipo aquelas do Shopping China grandonas. Vamos enrolar o corpo no pano, depois embrulharemos no jornal, colocamos na sacola e depois enterraremos em um aterro ou lixão.
LETÍCIA – Aterro sanitário ou lixão?!
ANTONIO – É a melhor forma de disfarçar o cheiro.

Letícia fica convencida imediatamente pela ideia de Antonio e vai à busca das coisas exigidas. Enquanto isso, Antonio tenta se distrair e acalmar sua tensão. Começa brincar com os olhos azuis cristalinos do cadáver, abrindo e fechando; como se ele estivesse piscando. Devido essa brincadeira a imagem começa a focar em Antonio, e assim o olho começa a se mover. Até que a brincadeira faz com que o olho saia da cabeça do cachorro, fazendo com que Antonio se assuste.

ANTONIO – O caralho!
LETICIA – O que tá acontecendo aí?
ANTONIO – Nada!

Enquanto os dois estavam falando, o olho saiu rapidamente do campo de visão do Antonio, deixando ele ainda mais nervoso depois de sua idiotice. O olho saiu rolando até ficar embaixo de um arbusto, de onde é possível ver amplamente toda a cena.

ANTONIO – Puta que pariu. Cadê o maldito olho azul?

Antonio ouve Letícia se aproximando e tenta achar alguma coisa capaz de tapar o buraco no crânio canino. Então revolve pegar a própria bolinha pula-pula que tinha o desenho de um olho. Ele a enfiou fundo, dando uma cotovelada como se fosse um martelo até que a bolinha ficou presa. Ele conseguiu fazer tudo isso antes da chegada de Letícia.

LETICIA – Nossa você conseguiu deixar de olho fechado.
ANTONIO – É. Sou foda.

A dupla enrola o corpo embrulhando com o jornal. Antes de carregar o cadáver e levar para o aterro, eles ouvem um barulho de carro chegando e o portão eletrônico começa a abrir. Desesperadamente tentam encontrar um esconderijo. A dupla esconde o morto em um baú, trancam-no e depois colocam um pano por cima do baú. A porta da frente se abre. O dono do cão defunto sai do carro junto com um gato branco. O dono abre a porta da frente e seu gatinho vai em direção ao arbusto onde está o olho. Enquanto Antonio e Letícia cumprimentam o patrão, o mascote felino brinca com olho como se fosse novelo. Quando o dono vai ver o seu gato, ele fica com olhar surpreso e diz para os inquilinos:

DONO – Ei! (Virando a cara para os inquilinos) Mas que PORRA é essa?!

Nessa hora o gato se assusta e joga o olho, que cai em uma poça. Assim a cena fica escura e apenas se ouve os gritos das três pessoas e miados do gato.


Fim

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