“Olho de Cão”
Escrito por Robson Nakazato
(29/09/2014 – Segunda feira)
AVISO do AUTOR:
– Antes
de começar a ler o texto abaixo; a leitura deste roteiro exigirá imaginação do
leitor, ou seja, enquanto estiver lendo imaginem como um filme. A narrativa é em
“primeira pessoa”, o espectador vê toda ação ocorrer através de algum ponto de
vista que na maioria dos casos é por uma câmera segurada por alguém. Exemplos
de filmes que utilizaram essa técnica de primeira pessoa são: A Bruxa de Blair
(1999), Cloverfield - O Mostro, (2009), a série Atividade Paranormal e Poder
Sem Limites (2012).
– Esta
crônica é uma homenagem à escritora russo-brasileira Tatiana Belinky, famosa
por suas histórias com finais abertos e que fazem o leitor utilizar a
imaginação de como será o fim da dela.
Abre
a cena com imagem em preto-e-branco. Aparece um jardim gramado fresco, em um
dia ensolarado, até que surge um líquido escorrendo ao lado e uma pessoa com olhar surpreso, vendo
diretamente do ponto de vista do leitor. Este chega mais perto para olhar melhor
e faz uma cara como se tivesse feito uma cagada. E aí resolve chamar uma
garota.
ANTONIO
– Letícia! Letícia vem que cá ver!
LETÍCIA
– Ai Meu Deus do céu. (Bota as mãos na boca e no nariz) Nós dois matamos o
cachorro do dono.
ANTONIO –
Não. Não apenas um cão do síndico. Matamos um cachorro de uma espécie rara, que
parece um filhote leão, que é na verdade um cruzamento entre pastor alemão e poodle.
E esse cão fazia as pessoas de fora da casa cagarem de medo.
LETÍCIA
– O que vamos fazer?
ANTONIO
– O que vamos fazer com esse gramado que tá todo borrado de sangue. E ainda o dono
vai chegar hoje. Portanto eu sinceramente não sei que devemos fazer.
LETÍCIA
– Olha vamos o seguinte: tiraremos esse corpo daí e depois daremos um jeito no
gramado.
ANTONIO
– Ok.
Letícia
se prepara para levantar o cão. Antonio a interrompe e pede para fazer algo
antes.
ANTONIO
– Espera. Antes, feche os olhos do cachorro.
LETÍCIA
– Não. Não consigo. Olhe para os olhos azuis dele são tão cristalinos que não
consigo tocá-los.
ANTONIO
– Bom, se você tá com essa frescura, eu fecho para não perdermos tempo.
Antonio
cobre os olhos do cão e assim tudo fica escuro. Porém imediatamente a imagem se
abre sob a perspectiva do cão. Antonio e Letícia se preparam para levantar o
cadáver, mas percebem que o olho do animal se abriu.
LETÍCIA
– Antonio! O olho dele abriu sozinho!
Antonio
fecha novamente os olhos e a imagem fica escura. E mais uma vez o olho se abre
e vemos Antonio e Letícia carregando o corpo e depois o deixam no chão. Os dois percebem que um dos olhos não
está mais fechado.
ANTONIO
– Cacete desse olho azul cristalino! Letícia, faça o seguinte: pega um pano bem
velho, um jornal e uma daquelas sacolas grandes de compras, tipo aquelas do
Shopping China grandonas. Vamos enrolar o corpo no pano, depois embrulharemos
no jornal, colocamos na sacola e depois enterraremos em um aterro ou lixão.
LETÍCIA
– Aterro sanitário ou lixão?!
ANTONIO
– É a melhor forma de disfarçar o cheiro.
Letícia
fica convencida imediatamente pela ideia de Antonio e vai à busca das coisas
exigidas. Enquanto isso, Antonio tenta se distrair e acalmar sua tensão. Começa
brincar com os olhos azuis cristalinos do cadáver, abrindo e fechando; como se
ele estivesse piscando. Devido essa brincadeira a imagem começa a focar em Antonio,
e assim o olho começa a se mover. Até que a brincadeira faz com que o olho saia
da cabeça do cachorro, fazendo com que Antonio se assuste.
ANTONIO
– O caralho!
LETICIA
– O que tá acontecendo aí?
ANTONIO
– Nada!
Enquanto
os dois estavam falando, o olho saiu rapidamente do campo de visão do Antonio,
deixando ele ainda mais nervoso depois de sua idiotice. O olho saiu rolando até
ficar embaixo de um arbusto, de onde é possível ver amplamente toda a cena.
ANTONIO
– Puta que pariu. Cadê o maldito olho azul?
Antonio
ouve Letícia se aproximando e tenta achar alguma coisa capaz de tapar o buraco no
crânio canino. Então revolve pegar a própria bolinha pula-pula que tinha o
desenho de um olho. Ele a enfiou fundo, dando uma cotovelada como se fosse um martelo
até que a bolinha ficou presa. Ele conseguiu fazer tudo isso antes da chegada
de Letícia.
LETICIA
– Nossa você conseguiu deixar de olho fechado.
ANTONIO
– É. Sou foda.
A
dupla enrola o corpo embrulhando com o jornal. Antes de carregar o cadáver e
levar para o aterro, eles ouvem um barulho de carro chegando e o portão
eletrônico começa a abrir. Desesperadamente tentam encontrar um esconderijo. A
dupla esconde o morto em um baú, trancam-no e depois colocam um pano por cima do
baú. A porta da frente se abre. O dono do cão defunto sai do carro junto com um
gato branco. O dono abre a porta da frente e seu gatinho vai em direção ao
arbusto onde está o olho. Enquanto Antonio e Letícia cumprimentam o patrão, o mascote
felino brinca com olho como se fosse novelo. Quando o dono vai ver o seu gato,
ele fica com olhar surpreso e diz para os inquilinos:
DONO –
Ei! (Virando a cara para os inquilinos) Mas que PORRA é essa?!
Nessa
hora o gato se assusta e joga o olho, que cai em uma poça. Assim a cena fica
escura e apenas se ouve os gritos das três pessoas e miados do gato.
Fim