“Ao Mestre com Honestidade”
(15/07/2014 – Terça feira)
Escrito por Robson Nakazato
Em
um ginásio de colégio público que estava lotado de alunos, professores,
funcionários terceirizados e coordenadores. No palco está subindo um
palestrante chamado Brian. Os funcionários mais antigos o reconhecem como
ex-aluno e todos estão cochichando sobre o que ele irá falar.
- Ah não, lá vem
outro Zé que irá falar sobre a importância de estudar, ter educação, fazer uma
faculdade ou participação acadêmica.
- Será que ele
não pode falar outra coisa contrária disto?
- Aposto que ele
jamais irá falar mal da profissão ou de seu arrependimento de ter perdido 10
anos de sua vida apenas em estudos.
O
Diretor do colégio pede para que todos os presentes fiquem em silêncio e começa
apresentar o Brian, apoiando com uma mão no ombro do seu ex-aluno. Até que o Brian
começa a falar seu discurso:
BRIAN – Olá, bom
dia a todos. Meu nome é Brian. Vocês estão pensando: “nossa que nome mais
americano”. Meus pais me batizaram com este nome porque no inglês o som e as
letras lembram a palavra “cérebro”. Como a maioria dos brasileiros, vivi em uma
situação miserável na infância e na adolescência. Por toda minha vida meus
velhos sempre me diziam para valorizar este órgão (fica apontando o dedo na
cabeça). E jamais dê importância algum outro órgão, como por exemplo: CÚ. (Nesse momento todo mundo começa a olhar para
Brian e presta atenção no seu discurso).
Brian
dá uma pequena pausa e volta a discursar fazendo uma pergunta:
BRIAN – Eu
queria saber quem de vocês assistiu a serie de TV Breaking Bad?
Grande
parte levanta a mão.
BRIAN – E vocês
devem estar se perguntando qual a tradução para o português. Traduzindo
significa “Quebrando Mal”. Mas qual é o sentido desta expressão?
Todo
muito fica com a pulga atrás da orelha em querer saber. Até que alguém
responde:
ALUNO –
Significa que uma situação que já estava ruim com o passar do tempo fica cada
vez mais pior. Ou seja, “de mal a pior”.
BRIAN –
Exatamente, senhor?
ALUNO – Jonas.
BRIAN – Obrigado,
Jonas. Vocês devem estar se perguntando por que alguém com mestrado está aqui
num colégio falando de Breaking Bad, ao invés de dar aula na universidade.
Porque a situação da educação brasileira está seguindo exatamente este rumo tanto
aqui, no ensino fundamental e médio quanto no superior. E tudo isso é culpa de
vocês, estudantes, que arruínam a educação brasileira.
Assim
que o Brian ofendeu os alunos estes começam a prestar mais atenção nele.
BRIAN – Ainda
tem alguns que dizem que a principal causa é falta de qualidade de ensino e dos
professores. Mas eu lhes digo que não é. Todo professor ralou para estar aqui e
dá o melhor de si para gerar aprendizado.
Brian
desce do palco.
BRIAN – Já se
perguntaram quais os motivos de vocês arruinarem o ensino? Por dois motivos: a
valorização da cultura ridicularizada e incompetência do seu governo!
Brian
põe a mão no bolso para pegar uma coisa.
BRIAN – Devido a
influencia da cultura atual e a globalização, vocês jovens não se passam como “bateria”
para isto. (BRIAN tira a mão do bolso e segura um iphone, e demonstra isso de
maneira similar ao personagem Morpheus em uma cena abaixo do filme Matrix).
Brian
liga um projetor de imagens e demonstra imagens de propaganda política, sendo
que uma delas tem a seguinte frase: “Alunos
de baixa renda que entram nas universidades com cotas é sinal sinônimo de melhora
na qualidade na educação”.
BRIAN – Mas a
culpa não só dos estudantes. Deveríamos sentir vergonha do nosso governo e sua
propa(en)gana populista política, que só se preocupa em elevar a massa
populacional nas universidades, ao invés de melhorar a qualidade nas escolas de
ensino básico, o lugar fundamental para formação. E é por isso que muitos de
vocês que ao pisarem no solo acadêmico irão sentir-se ilhados nas explicações
teóricas dos professores.
O
projetor exibe uma frase hipnótica: “Change
Brain” (“Mude Cérebro”). O projetor desliga e Brian pega um lenço para
enxugar o suor na testa. Sobe ao palco, toma uma água e faz outra pergunta:
BRAIN – To
ficando quase sem voz de só ficar falando. Antes de terminar queria fazer uma última
pergunta: quem de vocês já trabalhou?
Muitos
levantam as mãos.
BRIAN – Deixe-me
adivinhar, muitos de vocês trabalharam em caixa de supermercado e na roça,
certo?
ALUNOS – Sim.
BRIAN – E alguns de vocês gostam ou se
orgulham pelo trabalho?
ALUNOS – Não!
BRIAN – Sei o
motivo. Vocês foram forçados pelos pais/familiares ou simplesmente tiveram
dificuldades financeiras. Eu sobre este ponto de vista entendo que para você
vencer na vida não é nada fácil. Está aí a incapacidade dos professores em não
incentivarem vocês a não enxergar o futuro de suas vidas sem necessariamente ter
cursado uma faculdade, ou seja, ter investido em um hobby, MAS não pensem que isso é sinônimo de largar
de estudar. Hobby é dom natural que se descobre sozinho quando se tem amor ou
prazer por aquilo que se faz e sem necessariamente muito esforço para o desenvolver.
Se você sabe que é bom com números e faz contas sem erros: seja um contador; se
você escreve bem: seja um escritor ou redator; se você tem facilidade com mapas
através de programas de computador, dá para ganhar dinheiro com moleza.
Brian
desliga o projetor e fica na beira do palco para dar um aviso.
BRIAN – Então
para concluirmos este discurso polêmico vou fechar com minhas mensagens:
“Enriqueça seu cérebro para entrar na universidade” (CHANGE BRAIN)! “Encontre
seu hobby!”. E lembrem-se do meu lema: “SEJAM ÚTEIS PARA A SOCIEDADE! SEJAM ÚTEIS
A SI PRÓPRIOS E DEEM UM SIGNIFICADO PARA SUAS VIDAS!” (levanta seu rosto para
céu) “SEJAM ÚTEIS!!!!!!”.
Brian
desmaia e cai de encontro ao chão. Brian é socorrido. O Diretor do colégio
aparece em cena à frente do palco e fala com os alunos:
DIRETOR – Bom. O
mestre aqui deixou bem claro a vocês! Aqueles que querem encontrar seu hobby que
contribua para a sociedade vão para casa,
pensem e reflitam sobre seu futuro. E aqueles que querem pisar em uma
universidade, por favor, fiquem aqui.
Grande
parte dos alunos se levanta e saem não muito animados por terem sido dispensados
loucamente. Um pouco mais de um terço dos estudantes permaneceram. Quando
estava calmo e em silêncio, o Diretor fala com Brian:
BRIAN – Ok
Brian. A barra tá limpa.
Brian
abre os olhos e se levanta com um sorriso.
DIRETOR – Bom
trabalho e foi um belo discurso, hein.
BRIAN – Essa
operação varredura dos alunos arruinadores sempre funcionou.
FIM
“Feliz
Dia do Professor. Especialmente à professora NANCY”.
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