quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Ao Mestre Com Honestidade

“Ao Mestre com Honestidade”

(15/07/2014 – Terça feira)

Escrito por Robson Nakazato



Em um ginásio de colégio público que estava lotado de alunos, professores, funcionários terceirizados e coordenadores. No palco está subindo um palestrante chamado Brian. Os funcionários mais antigos o reconhecem como ex-aluno e todos estão cochichando sobre o que ele irá falar.

- Ah não, lá vem outro Zé que irá falar sobre a importância de estudar, ter educação, fazer uma faculdade ou participação acadêmica.
- Será que ele não pode falar outra coisa contrária disto?
- Aposto que ele jamais irá falar mal da profissão ou de seu arrependimento de ter perdido 10 anos de sua vida apenas em estudos.

O Diretor do colégio pede para que todos os presentes fiquem em silêncio e começa apresentar o Brian, apoiando com uma mão no ombro do seu ex-aluno. Até que o Brian começa a falar seu discurso:

BRIAN – Olá, bom dia a todos. Meu nome é Brian. Vocês estão pensando: “nossa que nome mais americano”. Meus pais me batizaram com este nome porque no inglês o som e as letras lembram a palavra “cérebro”. Como a maioria dos brasileiros, vivi em uma situação miserável na infância e na adolescência. Por toda minha vida meus velhos sempre me diziam para valorizar este órgão (fica apontando o dedo na cabeça). E jamais dê importância algum outro órgão, como por exemplo: . (Nesse momento todo mundo começa a olhar para Brian e presta atenção no seu discurso).

Brian dá uma pequena pausa e volta a discursar fazendo uma pergunta:

BRIAN – Eu queria saber quem de vocês assistiu a serie de TV Breaking Bad?

Grande parte levanta a mão.

BRIAN – E vocês devem estar se perguntando qual a tradução para o português. Traduzindo significa “Quebrando Mal”. Mas qual é o sentido desta expressão?

Todo muito fica com a pulga atrás da orelha em querer saber. Até que alguém responde:

ALUNO – Significa que uma situação que já estava ruim com o passar do tempo fica cada vez mais pior. Ou seja, “de mal a pior”.
BRIAN – Exatamente, senhor?
ALUNO – Jonas.
BRIAN – Obrigado, Jonas. Vocês devem estar se perguntando por que alguém com mestrado está aqui num colégio falando de Breaking Bad, ao invés de dar aula na universidade. Porque a situação da educação brasileira está seguindo exatamente este rumo tanto aqui, no ensino fundamental e médio quanto no superior. E tudo isso é culpa de vocês, estudantes, que arruínam a educação brasileira.

Assim que o Brian ofendeu os alunos estes começam a prestar mais atenção nele.

BRIAN – Ainda tem alguns que dizem que a principal causa é falta de qualidade de ensino e dos professores. Mas eu lhes digo que não é. Todo professor ralou para estar aqui e dá o melhor de si para gerar aprendizado.

Brian desce do palco.

BRIAN – Já se perguntaram quais os motivos de vocês arruinarem o ensino? Por dois motivos: a valorização da cultura ridicularizada e incompetência do seu governo!

Brian põe a mão no bolso para pegar uma coisa.

BRIAN – Devido a influencia da cultura atual e a globalização, vocês jovens não se passam como “bateria” para isto. (BRIAN tira a mão do bolso e segura um iphone, e demonstra isso de maneira similar ao personagem Morpheus em uma cena abaixo do filme Matrix).



Brian liga um projetor de imagens e demonstra imagens de propaganda política, sendo que uma delas tem a seguinte frase: “Alunos de baixa renda que entram nas universidades com cotas é sinal sinônimo de melhora na qualidade na educação”.

BRIAN – Mas a culpa não só dos estudantes. Deveríamos sentir vergonha do nosso governo e sua propa(en)gana populista política, que só se preocupa em elevar a massa populacional nas universidades, ao invés de melhorar a qualidade nas escolas de ensino básico, o lugar fundamental para formação. E é por isso que muitos de vocês que ao pisarem no solo acadêmico irão sentir-se ilhados nas explicações teóricas dos professores.

O projetor exibe uma frase hipnótica: “Change Brain” (“Mude Cérebro”). O projetor desliga e Brian pega um lenço para enxugar o suor na testa. Sobe ao palco, toma uma água e faz outra pergunta:

BRAIN – To ficando quase sem voz de só ficar falando. Antes de terminar queria fazer uma última pergunta: quem de vocês já trabalhou?

Muitos levantam as mãos.

BRIAN – Deixe-me adivinhar, muitos de vocês trabalharam em caixa de supermercado e na roça, certo?
ALUNOS – Sim.
 BRIAN – E alguns de vocês gostam ou se orgulham pelo trabalho?
ALUNOS – Não!
BRIAN – Sei o motivo. Vocês foram forçados pelos pais/familiares ou simplesmente tiveram dificuldades financeiras. Eu sobre este ponto de vista entendo que para você vencer na vida não é nada fácil. Está aí a incapacidade dos professores em não incentivarem vocês a não enxergar o futuro de suas vidas sem necessariamente ter cursado uma faculdade, ou seja, ter investido em um hobby,  MAS não pensem que isso é sinônimo de largar de estudar. Hobby é dom natural que se descobre sozinho quando se tem amor ou prazer por aquilo que se faz e sem necessariamente muito esforço para o desenvolver. Se você sabe que é bom com números e faz contas sem erros: seja um contador; se você escreve bem: seja um escritor ou redator; se você tem facilidade com mapas através de programas de computador, dá para ganhar dinheiro com moleza.

Brian desliga o projetor e fica na beira do palco para dar um aviso.

BRIAN – Então para concluirmos este discurso polêmico vou fechar com minhas mensagens: “Enriqueça seu cérebro para entrar na universidade” (CHANGE BRAIN)! “Encontre seu hobby!”. E lembrem-se do meu lema: “SEJAM ÚTEIS PARA A SOCIEDADE! SEJAM ÚTEIS A SI PRÓPRIOS E DEEM UM SIGNIFICADO PARA SUAS VIDAS!” (levanta seu rosto para céu) “SEJAM ÚTEIS!!!!!!”.

Brian desmaia e cai de encontro ao chão. Brian é socorrido. O Diretor do colégio aparece em cena à frente do palco e fala com os alunos:

DIRETOR – Bom. O mestre aqui deixou bem claro a vocês! Aqueles que querem encontrar seu hobby que contribua para  a sociedade vão para casa, pensem e reflitam sobre seu futuro. E aqueles que querem pisar em uma universidade, por favor, fiquem aqui.

Grande parte dos alunos se levanta e saem não muito animados por terem sido dispensados loucamente. Um pouco mais de um terço dos estudantes permaneceram. Quando estava calmo e em silêncio, o Diretor fala com Brian:

BRIAN – Ok Brian. A barra tá limpa.

Brian abre os olhos e se levanta com um sorriso.

DIRETOR – Bom trabalho e foi um belo discurso, hein.
BRIAN – Essa operação varredura dos alunos arruinadores sempre funcionou.



FIM

“Feliz Dia do Professor. Especialmente à professora NANCY”.